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Racismo impede que escritoras negras sejam reconhecidas no Brasil, diz Bianca Santana

Jornalista e escritora Bianca Santana fala da importância da diversidade literária no contexto brasileiro

Da redação com Agência Pública – Fotos; Ag.Pública e internet

Em julho deste ano, Ana Maria Gonçalves, autora de Um Defeito de Cor, tornou-se a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada em 1897. O marco expõe a baixa representatividade de gênero e raça no mercado cultural brasileiro, já que a produção literária de mulheres negras também datam dos últimos séculos. Parte dessas obras, no entanto, só começou a ser reconhecida recentemente e, no caso da ABL, cujo objetivo é o cultivo da língua e da literatura nacional, este reconhecimento chega 128 anos após a fundação da instituição.

Para refletir sobre esses atravessamentos das desigualdades de raça e gênero no Brasil e o papel da escrita para repensar o país, Andrea Dip recebe no Pauta Pública desta semana a escritora, professora e jornalista Bianca Santana. Um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea, autora de obras premiadas como Como me descobri negra e Apolinária. A autora ressalta que, ao contar histórias silenciadas, a literatura negra é um passo na cura dos traumas deixados pela escravidão e pelo colonialismo.

“Quando a gente pensa na história da população negra no Brasil, foram quase 400 anos de escravização legal. [Portanto] além do trauma da escravidão e do colonialismo, a gente tem a violência do racismo diariamente (…) a literatura me parece muito importante para contar histórias ou silenciadas, ou que não foram suficientemente contadas. É como se a gente desse um passo na construção da nossa subjetividade, na cura desses traumas”, afirma.

Na sua opinião, o que significa a entrada da Ana Maria Gonçalves na Academia Brasileira de Letras. Por que demorou tanto para que uma mulher negra chegasse lá nessa posição?

Demorou tanto porque o Brasil é um país racista e machista. Assim são as instituições brasileiras. Cida Bento tem um conceito importante de “Pacto Narcísico da Branquitude”, em que ela explica que, no jeito como o racismo se conforma no Brasil, os valores daquilo que é considerado de qualidade são valores brancos

Com isso, vão construindo noções de mérito sem perceber que essas noções são racistas. Por exemplo, que literatura de qualidade são somente obras feitas por pessoas brancas, como se isso fosse um acaso. Se não colocarmos atenção e admitir que isso é racismo, ou não nos abrir para o exercício fundamental de reconhecer a qualidade de obras e autores negros, não vamos enfrentar o racismo. Assim como se não enfrentarmos o machismo, só vamos ter homens na Academia Brasileira de Letras ou em qualquer instituição do Brasil.

FONTE: Agência Pública – @agenciapublica – Texto; Por Andrea DiP, Stela Diogo, Ricardo Terto, Rafaela de Oliveira – https://apublica.org/2025/10/racismo-impede-que-escritoras-negras-sejam-reconhecidas-no-brasil-diz-bianca-santana/