Que o Brasil é epicentro de uma das culturas culinárias mais ricas do mundo, não é novidade para ninguém. Mas quando o assunto é alta gastronomia, São Paulo sempre conquistou mais os holofotes do que qualquer outra cidade do país. Por muitos anos, a capital paulista não só manteve esse status no senso comum, mas nos prêmios: teve o primeiro restaurante duas estrelas Michelin do Brasil, o D.O.M, logo na primeira edição do guia em 2015, e por anos dominou entre as cidades brasileiras em rankings como 50 Best e La Liste.
Agora o jogo parece ter virado com a ascensão da cena no Rio de Janeiro. Pela primeira vez em 12 anos de história do Latin America’s 50 Best Restaurants, um restaurante carioca foi o mais bem colocado entre os brasileiros: o Lasai, do chef Rafa Costa e Silva, apareceu na 7ª posição em 2024, desbancando a paulista A Casa do Porco. No Michelin, enfim um empate, com São Paulo e Rio com três restaurantes duplamente estrelados cada.

Não existe coincidência. Esse movimento vai exatamente de encontro com a intenção da atual administração carioca: tornar o Rio um grande destino do turismo gastronômico. Inspirados na estratégia de soft power peruana, que levou a culinária local ao topo da gastronomia mundial e impulsionou turistas a visitarem o país por sua comida, a Cidade Maravilhosa quer fazer o mesmo – para além das praias e do samba, ela também quer ser conhecida pela oferta gastronômica.
Estimativas da prefeitura do Rio indicam que a aposta tem potencial. O mercado do turismo gastronômico mundial hoje é avaliado em US$ 805 bilhões, segundo a empresa de pesquisa Straits Research. Na capital fluminense, isso significaria aumentar a arrecadação da cidade em até R$ 357,2 milhões, trazendo mais 2 milhões de turistas estrangeiros em 10 anos, mostrou um estudo da Secretaria de Turismo.
Então, qual a oferta carioca? Além dos infinitos botecos e comida de rua – patrimônio de muitíssimo valor da cidade –, a alta gastronomia também tem nome e voz por lá
Lasai
Já com duas estrelas Michelin, o Lasai viu suas reservas ficarem ainda mais disputadas desde novembro, depois do título de melhor restaurante do Brasil e 7º melhor da América Latina pela lista 50 Best. A proeza é do chef Rafa Costa e Silva e equipe, que dão um espetáculo de cozinha de produto em Botafogo. O palco é um balcão em L, onde apenas 10 sortudos por noite acompanham os cozinheiros perfeitamente orquestrados em uma degustação de 15 pratos – que muda constantemente, a depender do que a natureza der de melhor.
Frescor é a palavra-chave do chef. Para isso, 80% do menu vem direto das duas hortas do chef, seus oásis de fertilidade à menor distância possível do restaurante. “Servimos à noite um vegetal colhido de manhã. Tudo é plantado com muito cuidado e mimo”, orgulha-se Rafa. Dali, saem a mais linda e colorida variedade de cenouras, abobrinhas, couves-flor e tantos outros legumes e raízes que você talvez nem tenha ouvido falar antes de se sentar no Lasai – tipo pepino-melão, a alcachofra de Jerusalém ou a beterraba branca.
Descontraída, a maior parte da experiência envolve snacks para comer com a mão, como um crocante de folha com creme de ervas e arauta (uma salada deliciosa em formato de petisco), ou o tempurá de chuchu com bluefin. Com tamanha sazonalidade, cada ida ao restaurante será única.
Outro grande ponto alto do Lasai é a harmonização, daquelas que nem de longe passam despercebidas ao final da refeição. Culpa da sommelier Maíra Freire – eleita a sommelière do ano pelo Guia Michelin 2024 – e sua habilidade de garimpar rótulos diferentões e fora do lugar comum. De saquê do japão a um Pinot Gris da Alsácia, o Brasil é o que mais brilha nas taças. Exemplo é a cerveja Reserva Brasil, da Fermentaria Local, que surpreende: com base de mandioca e milho, é envelhecida em amburana e leva mel de mandaçaia, uma abelha nativa. Memorável.
O menu degustação sai por R$ 1.250 por pessoa, com mais R$ 680 com a harmonização.
FONTE: https://forbes.com.br/forbeslife/2025/03/7-restaurantes-que-provam-a-forca-da-alta-gastronomia-no-rio-de-janeiro/