IBGE: mais de dois milhões de lares saíram da insegurança alimentar em 2024

A quantidade de domicílios com pessoas com algum grau de insegurança alimentar caiu para 18,9 milhões, o que representa 2,2 milhões de lares a menos nessa condição entre 2023 para 2024. Proporcionalmente, o número de domicílios recuou de 27,6% para 24,2% nesse mesmo período, indicando que quase um em cada quatro domicílio ainda está em insegurança alimentar. Consequentemente, a proporção de domicílios em segurança alimentar aumentou de 72,4% para 75,8%.

Os dados, divulgados hoje pelo IBGE, são do módulo Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, realizada por meio de uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Este módulo faz parte de uma série de resultados sobre este tema, já coletados na antiga PNAD (2004, 2009, 2013) e na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. Embora não sejam pesquisas diretamente comparáveis, o IBGE manteve um padrão quinquenal que permite traçar a trajetória de enfrentamento da fome no país. A menor taxa de insegurança alimentar nessa série foi de 22,6% na PNAD 2013.

Norte (37,7%) e Nordeste (34,8%) apresentaram as maiores proporções de insegurança alimentar nos três níveis (leve, moderada e grave), sendo que o grau mais grave foi registrado em 6,3% e 4,8% dos domicílios, respectivamente. Entre as demais grandes regiões, a insegurança alimentar chegou a 20,5% dos domicílios do Centro-Oeste, 19,6% do Sudeste, e 13,5% do Sul.

A taxa de insegurança alimentar grave do Norte foi quase quatro vezes maior quando comparada com o Sul (1,7%), que foi a grande região com a menor proporção de domicílios em insegurança alimentar.

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A quantidade de domicílios em insegurança alimentar era maior no Nordeste (7,2 milhões), seguido por Sudeste (6,6 milhões), Norte (2,2 milhões), Sul (1,6 milhão) e Centro-Oeste (1,3 milhão).

“Em termos absolutos, a Região Sudeste, por concentrar a maior parte da população, tem um número elevado de domicílios em situação de insegurança alimentar. Uma coisa é olhar por termos proporcionais, com piores situações no Norte e Nordeste. Mas quando vemos em termos de quantidade, são Nordeste e Sudeste”, explica a analista da pesquisa, Maria Lucia Vieira.

Quase todas as unidades da Federação tiveram melhora na situação de insegurança alimentar entre 2023 e 2024. As exceções foram Roraima, que aumentou de 36,4% para 43,6%; Distrito Federal, que foi de 26,5% para 27%; Amapá, que passou de 30,7% para 32,5%; e Tocantins, que saiu de 28,9% para 29,6%. Por outro lado, nove estados tiveram menos de 20% no índice de insegurança alimentar: Santa Catarina (9,4%), Espírito Santo (13,5%), Rio Grande do Sul (14,8%), Paraná (15,3%), Goiás (17,9%), Mato Grosso do Sul (18,5%), Rondônia (18,5%), São Paulo (19,3%) e Minas Gerais (19,5%).

Os percentuais mais altos de domicílios em insegurança alimentar foram no Pará (44,6%), Roraima (43,6%), Amazonas (38,9%), Bahia (37,8%), Pernambuco (35,3%), Maranhão (35,2%), Alagoas (35%) e Sergipe (35%). Já os estados com nível grave de insegurança alimentar mais alto foram Amapá (9,3%), Amazonas (7,2%) e Pará (7%).

Proporcionalmente, a insegurança alimentar atingia mais domicílios em áreas rurais (31,3%) do que em zonas urbanas (23,2%). No grau mais grave de insegurança alimentar, o percentual de domicílios na área rural chegou a 4,6%, enquanto na área urbana foi de 3%.

“Esses dados vão um pouco contra a nossa intuição de que na área rural as pessoas plantam seus alimentos, portanto a insegurança alimentar ali seria menor. Entretanto, parte dos domicílios rurais tem rendimento per capita menor e maior presença de crianças, de tal forma que, mesmo com cultivo agrícola, esse pode ser restrito e não variado, não garantindo nem quantidade e nem qualidade”, avalia Maria Lucia.

Mulheres, pretos e pardos – Em domicílios com insegurança alimentar, as mulheres eram responsáveis por 59,9% deles, enquanto os homens tinham essa condição em 40,1%. A maior diferença foi no nível moderado de insegurança alimentar, com 61,9% dos domicílios sob responsabilidade das mulheres, enquanto o percentual dos homens foi de 38,1%.

Embora a participação de mulheres (51,3%) como responsáveis pelo domicílio fosse um pouco superior a de homens (48,2%), quando se observa os domicílios em segurança alimentar, esta relação se inverteu, com homens sendo responsáveis em 50,8% e mulheres, 49,2%.

Os números mostram desigualdade também por cor ou raça. No contexto da insegurança alimentar, domicílios com responsáveis de cor branca eram 28,5%, os de cor parda, 54,7%, e os de cor preta, 15,7%. Para casos de insegurança alimentar grave, a participação de domicílios com pessoa responsável de cor parda passou para 56,9%, mais que o dobro da parcela que representava os domicílios cujo responsável era de cor branca, 24,4%.

Os domicílios com responsável de cor branca (45,7%) foram a maior parcela dos que estavam em segurança alimentar, acima dos domicílios com responsáveis de cor parda (42%) e preta (11,1%).

O nível de instrução também influenciou o grau de insegurança alimentar. Em 2024, para os domicílios que estavam em situação de insegurança alimentar, 51,5% tinham como responsáveis pessoas com no máximo o ensino fundamental completo, chegando a 65,7% nos casos graves. Já os que tinham ao menos o nível médio incompleto, 48,5% estavam com insegurança alimentar e 34,3% nos casos graves.

Já entre os domicílios que estavam em segurança alimentar, 35,1% tinham como responsáveis pessoas com até o nível fundamental completo, enquanto 64,9% dos domicílios tinham responsáveis com ao menos o nível médio incompleto.

Quando analisadas as ocupações dos responsáveis em domicílios com insegurança alimentar, 17% trabalhavam por conta própria, 8,6% eram empregados privados sem carteira, 6,5% eram trabalhadores domésticos, e 47,5% eram outros casos (trabalhadores familiares auxiliares, desocupados e pessoas fora da força de trabalho). Nos casos de domicílios em insegurança alimentar grave, 15,5% tinham responsáveis ocupados por conta própria, 8,3% como empregado com carteira assinada e 6,7% como trabalhador doméstico.

Em casos em que o responsável pelo domicílio era empregado no setor privado com carteira assinada, 23,4% dos domicílios encontravam-se em situação de segurança alimentar, o maior percentual entre todas as categorias. Já os que não tinham carteira assinada eram apenas 6,6%. Os domicílios em segurança alimentar com responsável sendo trabalhador doméstico representavam 3,4%. De acordo com a analista da pesquisa, a distribuição dos domicílios em segurança alimentar por posição na ocupação segue uma proporção bem próxima quando comparada à distribuição do total de domicílios.

FONTE: Monitor Mercantil – Com informações da Agência de Notícias IBGE